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Cometa C/2020 F8 (SWAN)

Astrofotógrafo: Sergio Gonçalves Silva

O cometa C/2020 F8 (SWAN) foi descoberto nas imagens da câmara SWAN, montada na sonda SOHO (Solar Heliospheric Observatory), uma missão conjunta da NASA e da ESA lançada em 1995 e cuja missão primária é a observação solar. Inicialmente planejada para durar dois anos, a SOHO já se encontra em operação há mais de 24 anos.

Figura 1: Imagem NASA

A câmara SWAN faz primariamente imagens do espaço interplanetário no ultravioleta (UV) para pesquisar a distribuição do fluxo de fótons Lyman Alpha solares (121.6 nm), espalhados pelo gás hidrogênio neutro existente no meio interplanetário além do Sol. Graças a essa detecção, é possível criar um mapa em tempo quase real da atividade solar no lado oposto à sonda.

Três vezes por semana (normalmente às terças-feiras, quintas-feiras e sábados) são feitas observações do céu inteiro, publicadas online entre 2 e 4 dias depois da observação. É essa cobertura do céu em UV que permite comparar imagens no tempo e verificar se existem pontos brilhantes que aparentem se mover no espaço, o que torna o instrumento um excelente detector de potenciais cometas.

Foi assim que, em 25 de março de 2020, foi descoberto o cometa C/2020 F8 (SWAN).

Figura 2: Imagem NASA

Existe uma convenção para dar nome aos cometas:

[Designação]/[ano] [quinzena do ano][número do cometa descoberto na quinzena] [(Descobridor(es))]

A designação pode ser:

C/ para cometas não periódicos;

P/ para cometas periódicos;

X/ indica que não se pode calcular uma órbita confiável para o cometa;

D/ indica um cometa que desapareceu, se desintegrou ou se perdeu;

A/ para objetos que foram inicialmente identificados como cometas mas foram reclassificados como asteroides ou como asteroides com órbitas similares às dos cometas e

I/ para objeto interestelar.

Então, ao lermos o nome C/2020 F8 (SWAN) sabemos que:

Não é periódico;

foi descoberto no ano de 2020;

na sexta quinzena do ano (entre 16 e 31 de março);

é o oitavo cometa descoberto nessa quinzena e

foi descoberto por SWAN, no caso uma referência ao instrumento (poderia ter sido ao observador).

O cometa apresenta uma coloração esverdeada, típica de cometas compostos por gelo (H2O), gelo seco (CO2 em estado sólido), metano (CH4), amoníaco (NH3), formaldeído (H2CO) e monóxido de carbono (CO). A baixas temperaturas esses elementos ficam congelados, porém, com a aproximação ao Sol, começam a sublimar (passar do estado sólido diretamente para o gasoso).

Por efeito da radiação UV o monóxido de carbono fica ionizado (CO+). Essas moléculas acabam por ser arrastadas pelo vento solar, criando uma cauda azul ionizada, visível perfeitamente na fotografia.

À medida que o cometa se aproxima do Sol, seu núcleo começa também a ganhar temperatura e os elementos descongelam, criando uma nuvem difusa em volta do núcleo, que recebe a denominação de coma. Essas partículas também são empurradas pela pressão da luz solar, criando uma outra longa cauda de partículas de pó de coloração mais branca/amarelada. Enquanto a cauda de íons aponta sempre na direção oposta ao Sol, a cauda de poeira pode se curvar à medida que o cometa se move em torno do Sol.  Essas partículas de poeira ficam no espaço por longos períodos de tempo e, quando a Terra passa por uma dessas regiões, é comum os grãos de poeira se precipitarem contra nosso planeta e arderem ao atravessar a atmosfera, criando assim uma chuva de meteoros.

Finalmente, a cor da coma vem da emissão de fótons pelos átomos dos gases formados pela sublimação do núcleo do cometa. Ao ser bombardeados por radiação UV os elétrons mudam seu estado energético, o que resulta na emissão de luz, tipicamente da cor verde quando o cometa contém cianeto (CN) e carbono gasoso (C2) em quantidades abundantes e se encontra ativo e quente (perto do Sol).

Sobre a captura

A captura foi realizada utilizando 35 imagens de 60 segundos. Todas foram aproveitadas para o empilhamento da imagem.  Dentre elas, 31 foram selecionadas para efetuar uma medição fotométrica aproximada da magnitude, de valor 5.786 (mediana).

Figura 3: Magnitude estimada

A medição de magnitude foi enviada para o COBS (www.cobs.si). Os dados apontam uma diminuição de brilho do cometa, o que pode ser indicativo de um evento de desmembramento de sua estrutura. À data desta publicação o tema ainda é inconcluso.

As medições e a curva de luz podem ser encontradas e consultadas em tempo real aqui:

https://cobs.si/analysis2?plot_type=0&col=comet_id&obs_type=3&id=1876&start_date=2019/12/06%2008:09&end_date=2020/06/03%2008:09&submit_type=1&comp_field=1&comp_id=2841

É importante realçar que não existe uma técnica precisa para medições de magnitude de objetos difusos utilizando sensores de imagem, o que explica a discrepância entre medições com auxilio de sensores (CCD ou CMOS) e visuais.  

A escala de placa é de 3.521 segundos de arco por pixel, e uma medição simples demonstra que a coma apresenta um diâmetro de 10.6 minutos de arco.

Na horizontal a imagem tem 1.36 grau e, como vemos, a cauda se estende para além do campo de visão. Estimativas feitas por outros astrônomos no Chile indicam uma extensão de até 10 graus.

Fontes

[1] Fundamental Astronomy. Hannu Karttunen, Pekka Kröger, Heikki Oja, Markku Poutanen, Karl Johan Donner. Sixth edition. Springer, ISBN 978-3-662-53045-0.

[2] https://sohowww.nascom.nasa.gov/data/summary/swan/.

[3] https://minorplanetcenter.net/iau/info/CometNamingGuidelines.html .

 

DADOS TÉCNICOS SOBRE A AQUISIÇÃO

Local: Observatório TUGA. Porto Feliz, SP, Brasil
Data: 2020-05-04UT07:41:41
Exposição: 35x60s

Equipamento
– Telescópio: Celestron C11 Edge HD
– Lente: Hyperstar
– Câmera: ZWO ASI071MC-Pro
– Filtro: IDAS QRO Light Pollution Filter
– Montagem: iOptron CEM60


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